segunda-feira, 23 de abril de 2012

Agridoce

Já passavam das seis da manhã quando acordei. Lembro de dar uma última olhada no despertador antes de jogá-lo na parede. Anotei na lista: Comprar um despertador novo. Olhei o resto da minha lista de compras: Itens de higiene e remédios. Minha felicidade sintética. Gostaria que continuassem a fazer efeito. Gostaria de uma injeção de ânimo as vezes, gostaria de uma solução mágica para os meus problemas.


Tudo são remédios. Desde criança eu tenho que tomar remédios para uma infinidade de coisas. Pra todas as dores possíveis e imagináveis, pra fortalecer ossos, músculos, fortalecer meu sistema imunológico. Olhei pra minha caixinha de remédios. Abarrotada de comprimidos, líquidos, sachês. Sou hipocondríaca, triste constatação.

Repensei na minha vida e nas minhas atitudes. Estou sempre remediando coisas. Sempre arrumando soluções para problemas quando tudo que eu queria que não acontecesse, acabou por acontecer. Porque será que sempre tendo a querer remediar? Porque nunca evito? Porque nunca me previno? Acho que minha hipocondria avançou nos aspectos da minha vida e se fez presente no meu caráter de forma integral.

Levantar da cama é um martírio. Em dias como esse eu queria ter 5 anos de idade, dizer que estou com dor de dente e ficar em casa. Não trabalhar, não estudar, não cuidar de casa, não resolver problemas, não fazer absolutamente nada além de me enrolar no cobertor, tomar leite, comer biscoitos e assistir desenho animado o dia todo.

Mas a vida me chama. E os problemas malditos além de chamarem, ligam pra celular, por skype, mandam sms, chamam a atenção no MSN, mandam recados no facebook, sinal de fumaça, ligam até pra sua vizinha e pedem pra dar recado. Sim, os problemas te acham sempre. E não adianta fugir porque problemas existem dentro de você. Eu já até tentei jogá-los dentro do freezer e matá-los por hipotermia. Tentei afogá-los na piscina. Tentei afogá-los com vodka. Nada adiantou.

Esse gosto agridoce que invade as papilas gustativas da minha mente me leva a pensar em tantas coisas. Odeio pensar. Queria desligar meu botão de pensar e ficar assim num modo de vôo, um piloto especial, talvez. Odeio agüentar pessoas, odeio esse mundo, odeio respirar, odeio ouvir, odeio ver, odeio constatar que minha vida é uma merda. Odeio minha vida, me odeio. Odeio odiar. Odeio amar. Odeio saudades. Odeio bipolarizar. Odeio.

Entrei no carro, fui pro supermercado, fui na farmácia, atendi telefonemas que só me trouxeram mais problemas, fui pra faculdade, assisti aula, não prestei atenção nas matérias, ignorei metade das coisas que me faziam feliz. Me afundei mais ainda na minha depressão. Senti saudades, peguei o telefone, disquei um número, desliguei. Não tive coragem de dizer “Oi, te amo. Sinto saudades. Por favor, fique comigo e me faça feliz.”

Liguei outro número para pedir pra ter de volta. Pra pedir colo e dizer “estou com medo”, pra dizer que me arrependo de todos os meus erros e que a partir de agora eu juro que vou tentar ser do jeito que querem que eu seja. Desliguei antes de chegar a chamar. Também não tive coragem. Fiquei na vontade. Sou uma mulherzinha idiota.

Não estou de TPM, não estou triste. Só estou cansada. Cansada de ser eu, cansada de estar onde estou, com quem estou, do jeito que estou. Cansada dessa vida, cansada dessas pessoas, cansada desse mundo, cansada de resolver meus problemas, os problemas dos outros. Cansada.

Estou apenas cansada. Ou não. Apenas estou. Não sou.

Só sou hipocondríaca. Só quero um porre. Ou umas gotinhas de Rivotril.

Vou dormir porque por sorte, ainda não odeio dormir.