segunda-feira, 5 de julho de 2010

Após os cinco estágios de Kübler-Ross.

Lembro de certa vez, ter lido uma carta muito triste de uma mãe ao seu filho. Essa carta me chamou a atenção. A criança morreu de um motivo que eu desconheço. Era de uma família que eu também desconheço. E viveu uma vida do qual eu nunca sequer cruzei. Mas a dor de perder alguém é sempre igual.

O desespero de não saber como seguir a vida sem a pessoa que você tanto amava. Seja ela seu ascedente, descendente, colateral ou cônjuge. A dor de olhar a vida que a pessoa deixou pra trás. Seus sonhos, seus planos, sua história. Sua família. O prato preferido que nunca mais irá comer. A música que nunca mais irá escutar.

Como superar a dor da perda? Alguns dizem para se procurar Deus. Sim, concordo que esse é o melhor caminho. Deus consegue aliviar uma parte da nossa dor. Mas somos humanos e temos instintos, sentimentos, temos uma essência egoísta de querer tudo para nós o tempo todo. É uma condição humana primária. Querer ter exclusividade. Querer gozar da presença de outra pessoa eternamente. É um erro, mas somos humanos. Pecamos desde os primórdios. Então como levantar a cabeça e seguir adiante sem uma parte do nosso coração?

Perdi minha avó há 12 meses. E ainda não consigo frequentar sua casa porque isso me machuca. Estar lá, olhar pra cadeira que era dela, a cadeira em que ela passava o dia todo sentada, onde fazia suas refeições e conversava com suas visitas, onde rezava o terço todas as noites, onde contava suas histórias, onde divertia sua família com suas piadas.
É tão difícil sentar na cadeira de balanço e olhar pro mesmo lugar que ela olhava todos os dias e saber que ela nunca mais sentará naquela cadeira. E tentar se balançar imaginando quando ela me ninava, quando dedilhava meus cabelos... Tão difícil olhar pra tudo isso e saber que nunca mais serei questionada sobre os estudos, os namorados e as férias.

Tão triste cancelar os planos da minha festa de formatura onde tudo que fazia sentido era que ela subisse comigo ao palco como minha paraninfa e onde eu pudesse lhe entregar o meu diploma dizendo “Essa é pra você e por você, vó!”
Tão difícil comer creme de bacuri ou açaí e não sentir saudades de fazer isso com ela. Ou de aturar assistir o Silvio Santos na TV apenas porque ela gostava.É impossível ver o domingo como um feliz dia da semana quando todos os almoços depois da sua partida simplesmente perderam o sentido, perderam a graça e perderam a alegria.

E é terrivelmente atormentador entrar no carro e dirigir até a sua casa e retornar na esquina anterior porque por um momento tive uma vã esperança de que talvez a enxergasse naquela janela, e mais uma vez pudesse ouvir "Ô filha, tá passeando?"

Como, pergunto-me eu, como superar em 12 meses a falta de quem me fez feliz por 21 anos?

Então todas as noites eu peço, eu rezo, eu imploro que Deus trate bem da minha vózinha porque ela é um tesouro, o meu grande tesouro a quem eu devotei todo o meu carinho, toda a minha atenção, por quem eu sacrifiquei meu sono por noites a fio num hospital, pra quem eu guardava meus domingos em meio a uma corrida rotina, pra quem as vezes eu cozinhava com tanto empenho, pra quem eu rezei a Deus a primeira vez pedindo um milagre, movida única e exclusivamente por amor.
Por todas as coisas nesses 21 anos, por todo amor recíproco, puro e verdadeiro é que hoje eu faço um esforço pra tentar entender que um dia estaremos juntas, no melhor lugar onde tudo é paz, amor e felicidade e onde nem a dor que meu coração sente agora, poderá nos atingir.

Não é o silêncio que me incomoda. É a falta da voz dela...