domingo, 28 de agosto de 2011

Montanha russa.

São 21:52h de um domingo quando comecei a escrever esse texto. Estou comendo penne com creme de atum, sozinha e escrevendo aquilo que eu não consigo falar. Nada consegue simbolizar mais o quão depressiva eu estou.
Amanhã a terapeuta vai me perguntar como eu estou e eu vou responder que eu estou bem. Mas minha mentira será ignorada porque certamente ela não pode fazer nada além de me dar outras drogas pra eu seguir minha vida me dopando e fingindo pra mim e para todos que estou de fato, bem.
Disseram-me que estabilizantes demoram a fazer efeito. Que eles levam pelo menos 2 meses pra começar a fazer o efeito esperado. Comecei a tomá-los já fazem 6 meses e estou sempre à espera do efeito que me foi prometido. Tive diversas recaídas, tive vontade de me matar, tive descontroles, surtos, e cada vez que eu olho no espelho eu vejo que eu minto pra terapeuta, pra minha família e pra mim mesma. Eu não estou nada bem e pareço estar longe da Felicidadelândia.
Todos os meus planos parecem que nunca vão dar certo e que quanto mais eu sonho, mais eu caio no chão e ralo os joelhos. Quero sair na rua e tentar encontrar, tentar me encontrar. Mas quando eu me perdi? De quem eu me perdi? Do que eu me perdi? Eu me perdi?
Preciso me encontrar, preciso encontrar quem eu amo, preciso encontrar o caminho do encontrar-se. Mas onde começa esse caminho? Será que eu não passei por ele e esqueci de olhar melhor? Essa estrada permite retornos ou é só uma linha reta de uma única mão?
Apago a luz do quarto e deito pra esperar o sono. Tenho sonhos que parecem tão reais que parece que a qualquer minuto eu não vou mais acordar. E na atual situação eu acho que isso seria o melhor pra mim.
Acordo sobressaltada, respirando forte com o coração num ritmo acelerado. Foi mais um sonho, estou viva. As coisas estão dentro do controle. Eu deveria estar feliz, mas não estou.
Volto a dormir. Acordo bem, com vontade de abraçar até a parede. Brinco com o cachorro, digo bom dia pros vizinhos. Dou passagem pra todos os motoristas que encontro ao longo do dia. Cumprimento todas as pessoas que passam por mim e cantarolo alguma música com versos alegres.
Tenho vontade de viajar, escrevo para velhos amigos dizendo o quanto gosto deles. Cozinho bem, acerto temperos. Trabalho eficientemente.
De repente os fantasmas na minha cabeça começam a sussurrar coisas que eu quero só esquecer. E me fazem lembrar que não sou forte o bastante. Que até minha pose inabalável é uma mentira. A vida é uma mentira.
E as verdades todas começam a vir em minha direção. Todas de uma vez. Feito pingos de chuva que se chocam violentamente contra o nosso corpo e doem de uma forma dolorosa, não dolorida. Uma chuva que dói. Tenho medo de tempestades. Tenho medo da vida real. Tenho medo desses altos e baixos. Dessa chuva e desse sol que ficam se alternando como num piscar de olhos.
O telefone toca.
- Oi Lívia, como você está?
- Bem. E você?
- Ótima. Tô ligando pra conversar sobre...

Minha velha amiga começa a contar suas felicidades às vésperas do seu casamento. E tudo que mais me frustra é que enquanto ela pede minha opinião sobre flores e organzas, meu penne esfriou.