sexta-feira, 3 de julho de 2009

Insight

Há três anos eu fazia terapia.
Porque eu sentia que precisava da ajuda de um profissional que me ajudasse a "consertar" a minha cabeça que andava meio confusa.
Depois de um ano e alguns meses, tive que interromper meu tratamento por que minha terapeuta mudou de cidade.

Passei os últimos dois anos, achando que não precisava mais de terapia, nem dos remédios nem nada do tratamento pro meu transtorno bipolar.
Ledo engano.
A pior parte de um tratamento é quando você não tem o insight. Ou seja, o que a psicologia define como percepção.
Então você está em negação, que Freud explica com um dos mecanismos de defesa do nosso aparelho psíquico.
Algo que te faz mal, te causa dor. Então você não aceita que aquilo esteja acontecendo.
E isso funciona, por um lapso de tempo.
Mas quando a negação acaba você tem a real noção da dimensão daquele problema, e a dor parece triplicar.
É atormentador quando isto ocorre.

Então, depois de três anos de negação, eu caí na real e voltei pra terapia.
Mas mesmo mantendo a rotina de psicólogos desde a pré-escola, eu nunca tinha entendido qual o real sentido de ficar uma hora olhando pra cara de uma pessoa desconhecida e contar o que está se passando comigo.
Achava que eu podia fazer isso com qualquer amigo, com a minha mãe, com a minha cadela.
Afinal, eu só precisava de um ouvido que aturasse ouvir os acontecimentos que de alguma forma me abalavam.
Mas hoje, por motivos de força maior mesmo que eu nem tenha conseguido me consultar com a minha terapeuta, eu tive o meu insight e enfim percebi a função da psicoterapia.

Vivemos em um mundo em que a conversa é cada vez menos valorizada. Deixa-se tudo muito subentendido.
Falo isso por experiência própria.
Eu tenho muita dificuldade em conversar com as pessoas.
Falo muito. Sobre política, economia, justiça, psicologia, sociedade, culinária, ouço problemas de amigos, aconselho, dou dicas de beleza... Mas conversar tem uma conotação mais profunda.
Mesmo o amigo mais íntimo, mesmo a amiga pra quem contei da minha primeira vez, do meu primeiro piercing, mesmo o amigo pra quem liguei e pedi abrigo quando saí de casa, mesmo todos eles sabendo muito de mim, definitivamente, não sabem tudo de mim.
Tem coisas que nem eu mesma sei colocar pra fora.
Porque apesar de falar muito, eu não sei expressar fielmente.
E aí é que entra a terapia. Pra ajudar a descobrir como me descobrir. Como me conhecer melhor.
E como ninguém é uma ilha, como ninguém consegue viver inteiramente só, eu precisei de pessoas estranhas, que não me julgariam, nem me repreenderiam, pra contar como eu me sinto a respeito disso.
Aliás, eu achava uma palhaçada pagar alguém que fica o tempo todo me perguntando "Como você se sente a respeito disso?" cada vez que eu contava um acontecimento diferente.
Sim, é preciso ficar repetindo a mesma pergunta para que eu saiba e diga como me sinto e como saber lidar com aquilo.
Quero respostas, e para tê-las preciso formular perguntas. Então preciso saber como isso afeta minha mente e minha vida para saber como proceder.

E por não conseguir expressar meus sentimentos, é que agora que acabou a minha negação e eu tive meu insight, me sinto completamente triste e perdida no mundo quando lembro que estou perdendo uma pessoa da qual eu me esqueci de dizer de fato, que a amava e sempre a amei profundamente. Tudo pela péssima mania de deixar as coisas subentendidas.

Eu simplesmente deixei nas entrelinhas por 20 anos o quanto eu amava a minha avó, e agora no seu leito de morte eu percebi que não lembrei de dizer aquelas três palavrinhas de peso enorme e vasto significado.

Que pena não ter o poder de voltar no tempo!