domingo, 8 de março de 2009

Mulher, cobre os peitos e mostra a tua capacidade!

Reza a lenda que o dia da Mulher foi instituído em homenagem à trabalhadoras queimadas vivas num galpão de uma fábrica durante uma greve. Elas apenas estavam exercendo um direito seu. Inerente à sua condição de trabalhadoras. E ainda há energúmenos que dizem que mulher é sexo frágil!
Ah sim, claro... Mas me diz que tal de sexo frágil é esse que agüenta uma cera quente arrancando os pelos de uma área super sensível, todos de uma só vez?
Somos um sexo muito forte. A gente se ferra com escoliose por causa do salto alto, trombose por causa do uso do anticoncepcional com cigarro, insônia pelo consumo excessivo de cafeína pra dar conta de todas as tarefas que muitas das vezes contam com o trabalho dentro e fora de casa.
Fazemos banho de lua, coloração, alisamento e outras químicas com produtos que às vezes passamos mais de 6h sentadas numa cadeira de salão sentindo o fedor de amônia. E amônia fede muito! Fazemos até depilação perianal no dia da noiva (e eu nem vou tecer mais comentários sobre isso).
Vivemos bonitas e impecáveis porque mulher relaxada ninguém dá crédito.
Passamos a vida toda após os 12 anos sangrando e sentindo dor todo mês. E NÃO morremos. Aliás, as mais guerreiras como eu, encaram até um julgamento de quase 6h, um dia inteiro de trabalho no escritório e faxina da casa, sentindo que está parindo um alien lentamente.
E eu já comentei sobre as benditas espinhas que aparecem nos 5 dias antes disso? Elas acabam com qualquer festa e dependendo do nível de poder de erupção do vulcão que cresce no meio da tua cara, nem maquiagem resolve, aliás, só evidencia mais o problema.
E por falar em festa. A Lei de Murphy se faz presente em muitas delas. O vestido é lindo, impecável. Mas é fato, a lei de Murphy impera e aí, a calcinha vai marcar. E fica o dilema entre ir com ou sem. Sim porque se usar com todo mundo vai ver o movimento de sobe-e-desce da sua bunda. E se não usar, é mais fácil as pessoas ficarem se perguntado se a calcinha está lá ou não. Homens, acreditem, não é como não usar cueca. Pelo menos, por experiência própria, eu não senti toda essa liberdade, não. Sem contar o medo do vento ou de cair no chão. Deus me livre!!! Aí você decide por uma calcinha fio dental. Ótimo, problema resolvido! Ela não marca sob o vestido. Ok, 5 minutos depois a constatação: Aquela merda incomoda pra cacete!!!
Mas vale tudo pra ficar bonita. Então você se submete a um fio ficar assando suas partes íntimas.
E por falar em esforço, quem já casou e quem tá intimamente ligada ao universo das noivas por causa de trabalho, como eu, sabe o esforço que é os 8 meses que antecedem o enlace. São regimes durante meses pra entrar e permanecer no vestido. E o casamento dura só uma noite. Por que não podemos ser como os orientais e comemorar por longos dias? Pelo menos valeria à pena as milhares de salada ingeridas!
E aí o casamento acontece. Acabou o os esforços? Não! Se antes você chegava em casa do trabalho, faculdade ou balada e podia ir dormir com fome por causa da preguiça e do cansaço que imperava, isso já era. A não ser que você mande seu marido ir se virar e com isso perder o casamento ou mandá-lo comer no fast food mais próximo e ter de ver o príncipe virar um sapo, você vai ter que ir até o fogão e preparar alguma coisa. E que seja uma comida boa, bem palatável. Do contrário você ouvirá que é preguiçosa, desleixada e que a "mamãezinha" é que fazia comida boa. Se controle. Por mais que a vontade seja de colocar veneno de rato no suco de maracujá fingindo que são os resíduos da semente, se controle! Não vale à pena. Ganha-se mais com o divórcio. Vai por mim. Eu sou civilista!
E aí aturamos a bendita escoliose de novo quando decidimos perpetuar a espécie. Os enjôos, as tonturas, os vômitos, as roupas que não servem mais, as roupas novas que só vendem nas lojas especializadas que por sua vez vivem lotadas de grávidas estressadas com seus filhos pentelhos, os desejos estranhos e ao fim das 40 semanas, a dor do parto que não chega nem aos pés de um chute no saco!
E sabe o que é pior? Você olha pras grávidas estressadas com seus filhos pentelhos e sabe que aquele é seu futuro próximo se você não optar pela laqueadura depois do seu primeiro filho.
E mais dores vêm quando eles nascem. Afinal de contas, alguém enfiou uma faca na sua barriga e no seu útero pra tirar a criança de lá e depois costurou isso. E você anda igual a um robô nos dias seguintes. E a amamentação? Eu não sei, mas uma amiga da qual eu acompanhei a gravidez de perto, me disse que dói muito. Eu devo imaginar que sim, afinal a pele rachou e tá em carne viva. Deus do céu, só de imaginar preciso de um analgésico!
Mas ininteligivelmente há aquelas que decidem passar por isso de novo! “Alôôô Bento XVI, temos uma canonização a ser feita aqui!!!”
Daí, eles crescem. E a barriga do marido também, na maioria das vezes. E proporcional a tudo isso, a sua jornada de trabalho diária. O seu chefe não tá nem aí se você divide seu dia entre marido, filhos, casa, trabalho e estudo (Sim porque a gente faz pós, mestrado, doutorado pra ganhar mais dinheiro pra ver se sobra um pouquinho pra comprar uma bolsa nova ou pintar o cabelo, pelo menos.). Não importa o que você faz fora do trabalho, importa que lá dentro você tem de dar contar do seu serviço, com ou sem TPM. E aí quando você reclama da sobrecarga de afazeres, ouve com uma certa ironia que nós sempre lutamos pelos direitos iguais e que o seu colega tem o mesmo trabalho e uma família pra sustentar. "Merdaaa, pega essa desgraçada que queimou o sutiã! Vaca nojenta, frustrada e mal-amada!"
Ok, mas ele tem uma mulher como eu que faz tudo pra ele dentro de casa.
Você dá uma rebanada e volta ao seu trabalho. Não esqueçamos que nessa hora o seu pé tá latejando dentro do sapato de bico fino e salto alto, mas um sapato lindo de morrer. Ou se por uma felicidade do destino, você pode trabalhar vestida mais confortavelmente, ainda assim, suas pernas estarão inchadas. E isso é por causa dos malditos hormônios. A gente retém líquido com mais facilidade. E muitas das vezes os ignorantes saem com aquela: "Tá gordinha, hein? Tá na hora de fazer um regime, uma academia"
"Pô, se eu tivesse tempo e dinheiro sobrando eu fazia uma drenagem linfática pra te mostrar quem é a gordinha, cacete! E se eu estiver acima do peso, vai fazer o que? Me espancar?"
Mas é porque eles não sabem o que é a felicidade de comer um chocolate no ápice do seu estresse.
E você pega o carro no fim do expediente. Mas se lembra que a Lei de Murphy acompanha você? Pois é. Por um complô do universo, durante o seu trajeto urbano algo se coloca na frente do seu veículo. Algo ou alguém. Se tudo der certo, apesar dos pesares, só cortes e escoriações ou somente danos aos veículos. E claro, tirar dinheiro da poupança que você tava fazendo pra ir passar um mês viajando pra pagar o seu e o prejuízo do outro!
Quando você desce do carro pra avaliar a real situação, o que você ouve? Não, não é o Frank Sinatra cantando "Can’t take my eyes off you"! É um ignorante análogo ao que falou das gordurinhas falando a clássica: "Tinha que ser mulher". Certo, você tenta se controlar e não deixar aflorar novamente o seu instinto homicida. E tenta conversar com o indivíduo. Mas ele pra piorar a situação solta: "Devia era tá pilotando o fogão de casa. Depois que ganharam direito a estudar e votar querem achar que podem pensar e fazer de tudo.". Tá, agora eu te apóio, enfia uma tapa bem no meio das fuças do idiota. Se a mãe dele não o fez, você faz.
E aí você é taxada de barraqueira, louca, descontrolada.
Com tudo resolvido, você chega em casa, pensando que seu dia cão acabou e já vai abrindo o armário pra pegar um calmante que te dará uma linda e maravilhosa noite de sono. Quando você vê, lá... Bem no cantinho da sala, perto da TV. Uma barata! E o seu marido tá assistindo o futebol. Você pede educadamente pra ele tirar aquele monstro que invade a tranqüilidade do seu lar, mas o drible do Ronaldinho é mais hipnotizante que as técnicas clínicas do finado Freud. Você mesma vai, reunindo toda a coragem do mundo e tasca uma sandália nela. Ok, você acabou de manchar o seu tapete com os restos mortais do inseto. E lá vai você limpar tudo. Intervalo do futebol. Você já fez o jantar, já lavou uma roupa, já lavou a louça, já arrumou a sala, já viu se o filho fez a lição e só tem uma hora que você chegou em casa. Nesse mesmo tempo, o seu marido só bebeu duas cervejas e petiscou alguma coisa largado no sofá.
E aí você entra no banheiro pra tomar um banho relaxante. Cadê a luz? A lâmpada queimou! Ótimo! "Deus, tem um raio aí em cima pra cair na minha cabeça?"
Você pede pro seu querido esposo ir contornar a situação. Mesmo que nada. E aí você lembra do tapete ainda molhado e cheirando à sabão.
Janta com sua família, lava a louça, arruma tudo, põe o filho pra dormir e vai deitar.
Ele tá lá, roncando. E ele já foi o príncipe encantado dos seus sonhos. Mas lá ele tinha menos barriga, mais cabelo, mais músculo, mais dinheiro e claro, não roncava e nem soltava gases!
E aí depois dessa via crucis você repousa a cabeça e descansa pensando porque só um dia pra você ser homenageada? E os outros 364?
Mas acima de tudo, você se sente feliz. Feliz, porque de uma forma ou outra você se realizou, mesmo que um pouquinho. Seus filhos são lindos. Seu marido é companheiro. E você não tem mais 5 anos de idade. Apesar de a brincadeira de casinha agora ser de verdade, veja pelo lado bom... Você pode ir pra festa e usar maquiagem e sutiã sem sua mãe lhe repreendendo!

O fato é que na verdade, todo dia é dia da mulher, todo santo dia, elas lutam pra ter seus direitos resguardados e acabar de vez com o estereótipo mal interpretado de que mulher é "sexo frágil". A mulher que é mãe, filha, irmã, sogra, cunhada, amiga, prima... Ou tudo isso ao mesmo tempo, porque se tem uma coisa que mulher sabe ser muito bem, é versátil. Afinal, aliar casa, trabalho, filhos e TPM, é motivo pra beatificação!
Parabéns às mulheres guerreiras, sonhadoras, protetoras, apaixonadas por um amor verdadeiro, pela vida, pelo trabalho, pela família, por algum cretino...
Enfim, parabéns para esses seres que sabem muito bem as dores e as cores de serem fêmeas, mulheres, divas, rainhas... cromossomos XX!
Afinal, homem que diz que mulher é frouxa e cheia de frescura devia era depilar virilha, cuidar das crianças, ter cólica, TPM e andar de salto... Queria ver qual seria a frescura, então!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Você já comeu jabuticabas?

Eu nunca tinha visto uma jabuticaba antes. Pensava que elas eram iguais ameixas. Mas parecem mais com as uvas. Como disse minha mãe, elas devem ser primas. (ok, eu não achei graça na piadinha por esse papo de primos e mamãe continuou a empurrar o carrinho do supermercado)

Eu odeio fazer supermercado. Mas também adoro. Sim, quem me conhece, e sabe desse meu jeito bipolar de ser, entende isso perfeitamente. Que eu posso amar e odiar a mesma coisa ao mesmo tempo! Rá!

Eu odeio as filas do supermercado. Desde a fila do balcão de frios, passando pela fila da panificadora, até a fila do caixa pra pagar as compras. Mas fazer supermercado é interessante. Você pode achar coisas legais. Desde uma pessoa interessante, até sei lá.. Jabuticabas, por exemplo!

Não encontrei ninguém interessante. Também com minha mãe do lado, estressada e extremamente apressada procurando creme de leite, frango defumado e couves verdinhas, não tinha nem como.

Mas hoje me aconteceu algo legal, sabe? Eu sinto que as vezes eu tenho muito medo do novo. Como hoje, eu pensei em nem provar as jabuticabas por medo de não gostar. Elas estavam lá, roxinhas, brilhosinhas, apetitosas e delicadamente colocadas umas ao lado das outras, numa bandejinha. Eu olhei e pensei: “Vou levar pra provar”. Quando ia me virando pra colocar no carrinho, mamãe me perguntou o que era e eu respondi com naturalidade: “Jabuticabas”. E ela me indagou: “Já comestes jabuticabas?”. Respondi com mais naturalidade ainda: “Não. Nunca comi."

Mas... Pára tudooo!!! Eu nunca comi jabuticaba!


Pronto! Um diálogo curto sobre uma dezena de frutinhas roxinhas me fez pensar um monte de coisas. Eu tive medo de não gostar das jabuticabas e olhando pra bandejinha como se o mundo todo parasse ante a minha crise existencial "jabuticabícia", eu me fiz algumas perguntas. E se forem azedas? Amargas? E se eu não gostar? Será que eu posso comer? Será que não vai aumentar muito a minha glicemia?

“Ei mãe, volta aqui... E tu? Tu já comeu jabuticaba?”. Ela disse que não e aí eu me senti perdida. Todo filho parte do pressuposto que deve confiar na experiência de seus genitores pra construir 50 % da sua experiência de vida. O resto a gente aprende com a gente mesmo. Mas a minha mãe nunca comeu jabuticabas! Meu Deus e se eu não gostar da bendita fruta! Vou estragar dinheiro e desperdiçar um alimento! Um pecado, no mínimo! Ah mas o papai deve ter comido jabuticabas e se eu não gostar ele come, ué! Simples! Eu sou um gênio.
“Alô, pai? Oi pai! Olha só, tu já comeu jabuticabas?”. “Não é aquele negócio que parece um pêssego roxo?”. “Não pai, aquilo é ameixa!”. “Ah, então não sei o que é!”

Putz! Me senti desolada! E agora? Comer ou não comer jabuticabas? Eis a questão!

Celular de novo. “Alô, mano!?” “O que é que tu já queres me perturbar?” (meu irmão é muito educado!). “Tu já comeu jabuticaba? É bom?”. “O que é jabuticaba?”. “Uma fruta! Parece uma uva”. “Não, nunca! Tu sabes que eu nem gosto muito dessas coisas naturebas”

Ok, meu irmão era a pessoa errada. Ele nem faz o tipo “saúde”. A criatura tem como prato preferido, arroz, farofa, rosbife, batata frita e meio kg de maionese!

Olhei pras jabuticabas com uma cara de desespero. Elas olharam pra mim e aí eu fiquei pensando...

O que mais tem por aí é gente reclamando que não consegue ser feliz. Que não entende como não consegue ser plenamente feliz.
Ora, me sinto uma criança de cinco anos de idade respondendo uma pergunta óbvia, na minha opinião. Não consegue ser feliz, porque não se permite ser feliz.

Tá, quando eu falo isso sempre sei que vai chover comentários do tipo “É claro que eu me permito ser feliz!!”

É? Então diz aí. Por quantas vezes, você deixou de tomar banho na chuva por medo de pegar um resfriado? Por quantas vezes disse: Ah, eu não vou passar o fim de semana no interior onde nem energia elétrica tem! (Mas tem o ar puro, livre de tanto poluentes que a selva de pedra produz). E quando se deparou numa encruzilhada e teve que escolher entre o caminho A e caminho B, escolheu o B e depois ficou resmungando como seria o A ao invés de aproveitar as coisas boas que encontrou no B? Hein? Duvido se por muitas vezes, não ficou olhando crianças brincarem tão alegremente e teve vontade de participar da brincadeira, mas não foi. Não foi porque, se julga velho demais, inteligente demais, compromissado demais, ridículo demais a ponto de pegar uma boneca e fingir que está alimentando-a.
Certamente, que por várias noites, recostou a cabeça no travesseiro e ficou pensando na falta de coragem de dizer a alguém que lhe amava, ou confidenciou que alguma coisa não estava bem. Isso se chama empurrar com a barriga.

A acomodação sem dúvidas é o principal obstáculo pra que se tenha dias verdadeiramente felizes. Todo mundo tem direito de surpreender, de ser surpreendido.
Quantas oportunidades a gente não perde só por pensar sempre no depois? O depois é uma incógnita.

O que importa é viver o agora, o presente. E que presente! Ontem já foi, não tem mais jeito. Pode chorar, se debater, espernear, surtar à La Amy Winehouse, mas já foi! Perdeu, playboy! Amanhã, iiih.. amanhã nem sei. Primeiro que não sei se vou estar aqui, ou aí, ou seja lá onde for. E nem sei se vou ser a mesma, integralmente. Ou se vou continuar seguindo a minha rotina. Aliás, eu nem sei se ainda vou ter uma rotina!

Portanto, eu ganhei um presentão de Deus! O HOJE!!! É no hoje que eu vou sonhar, que eu vou realizar meus sonhos, que eu vou chorar de alegria e de tristeza, que eu vou estudar, trabalhar, me estressar, ler, dormir, viver e amar. Sobretudo AMAR!

Não é porque eu não tenho mais um laço afetivo com alguém que eu vou deixar de viver e de amar. Tem um milhão de coisas pra amar. E eu amo a vida que eu tenho. Minha família, meus amigos, minha cadela, meus livros, meu conhecimento, meu mundo e a minha sobrinha!

E amo, muito, desesperadamente, inexoravelmente, incomensuravelmente... a minha vida! Com tudo que há nela. Com tudo que me transformou no que eu sou hoje. No hoje, no presente, no agora.
E esse é o meu presente. Continuar amando a minha vida.

Ah, e quanto as jabuticabas? Uma delícia! Doces, doces... Assim como o hoje. Um típico dia laranja! =D



segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Passa o tempo. Tempo passa. Passatempo.

“A gente passa a vida toda procurando o amor verdadeiro. Mas desiste depois da maior decepção. Porque talvez, na realidade esse tal verdadeiro amor nem exista. Ou exista e a gente esteja ocupado demais pra percebê-lo. Amor é subjetivo, é mágico, metafísico... Embora haja decepções daquelas que fazem a gente pensar “Nasci pra ser sozinho”, depois de conhecer outra pessoa a gente volta a sentir aquilo tudo novamente. As pernas bambas, o calor no rosto, o coração batendo tão forte que é possível senti-lo na garganta...”


Eu tive vontade de lhe dizer tudo isso naquela ocasião. Porque depois daquela noite, a lua nunca mais brilhou de uma forma tão bela. Nunca mais, meu coração bateu tão acelerado, sentindo tua respiração quente no meu rosto, pele na pele, boca com boca, olhos nos olhos e eu pude sentir teu coração batendo perto do meu.

Por mais que o tempo já tenha passado, essa noite é uma das lembranças mais remotas e felizes que tenho de nós dois. O dia em que pelo menos por um único momento, meu sentimento foi correspondido. Impossível prever que seria a pessoa mais feliz do mundo quando estivesse do teu lado. Mais impossível ainda era prever que eu sentiria a tua falta mais do que qualquer outra coisa e que as tuas mãos, somente as tuas, poderiam me proporcionar os carinhos que me transmitiam segurança e proteção.

Não estava nos meus planos, me apaixonar. Também não estava, passar tanto tempo do teu lado. Era pra ser algo de só um dia, só do momento, nada sério. Apenas um passatempo, porque afinal, pra mim os homens sempre foram apenas passatempos e eu queria me divertir sem me apegar a compromisso algum.

Mas quando você me beijou eu senti como se tudo ao nosso redor sumisse. E de repente só existia nós dois. Teus olhos são lindos, de perto são mais castanhos. Parecem ter um brilho especial, ou seriam os meus que se refletiam neles? E as tuas mãos... Ah as tuas mãos são grandes e eu gosto de mãos que se encaixem perfeitamente nas minhas. As tuas costas largas de homem que protege a mulher num abraço aconchegante. E o teu cheiro, as notas amadeiradas e o âmbar... Elas estão impregnadas na minha mente até hoje. E cada vez que eu sinto teu cheiro, lembro do quanto me fizestes sentir tantas coisas da forma mais intensa.


Não sei se é uma coisa saudável me apegar só à lembranças, mas tenho vontade de comprar teu perfume pra ficar sentindo o cheiro dele cada vez que eu sentir saudades.


Eu já tirei tuas fotos da minha vista, só que não tive coragem de jogá-las fora. Estão guardadas numa agenda que fica sempre à mãos. Por mais que eu não as veja o tempo todo. Elas ficam lá. Bem acessível caso bata a vontade de olhar pro nosso momento casal, registrado num pedaço de papel que eu já deveria ter queimado, mas que me queima por dentro cada vez que eu tento isso.


Mas o nosso chocolate preferido continua sendo o meu chocolate preferido. Não sei se ainda é o seu, porque eu também não sou mais sua preferência em nada. Mas eu continuo gostando do chocolate, gostando de colecionar as figurinhas que vem nele. Um dia desses eu comi com um amigo. Não foi a mesma coisa. Ele jogou fora a embalagem com a figurinha. Você jamais faria isso. Sempre me davas a figurinha. Mas ele não é você. E foi quando eu virei pro lado olhei pra ele e percebi que a embalagem tinha ficado na lixeira foi que eu percebi que eu também tinha ficado pra trás no seu caminho. Assim como a figurinha na embalagem. Será que eu fui uma figurinha? As vezes eu acho que sim.

Eu tô sofrendo. Sofrendo muito. E cansei de me esconder sob uma capa de mulher-maravilha que é forte o bastante pra ser inabalável. Eu cortei meu cabelo, mas antes mesmo disso, eu já me sentia meio Sansão. O que eu tô querendo ao me mostrar forte, centrada, decidida e super-heroína? Você pra mim é kriptonita e eu senti isso hoje, em poucos minutos que ouvi sua voz no telefone, me tratando de igual pra igual. Eu te ignoro, você me ignora. Eu te desprezo e você me despreza.

Mas no fim, eu te amo. E você? Nem sei...

sábado, 17 de janeiro de 2009

Tenho mais cérebro do que bunda

Falei com ele mais cedo no MSN. Até cogitei a possibilidade de voltar, mas eu não vou negar que estou com um certo receio. Acho que porque apesar de descobrir que eu o amo, nossa relação terminou muito desgastada.

Recebi a ligação de um amigo me convidando pra sair. Disse que ia pensar e retornaria a ligação em alguns minutos. Pensei em ter que tirar a camisola, tomar um banho, me arrumar, arrumar o cabelo, fazer maquiagem e encarar um salto alto. Era um trabalho muito árduo e eu tava morrendo de preguiça. Mas aí pensei que eu podia conhecer alguém interessante na noite. Sempre conheci gente interessante na Belém by night. Mas como são raríssimas essas minhas saídas, geralmente eu nunca mais encontro, depois.

E lá fui eu. Decidi por um look básico com pouco brilho. Também não abusei de maquiagem. Uma sombra dourada com degradê marrom e gloss. Apenas me certifiquei de esconder bem as olheiras das noites de sono conturbadas e colocar um blush rosa pra aparentar saúde. Ultimamente eu tenho aparentado muita saúde física. Ter emagrecido alguns quilos tem me garantido elogios dos amigos e umas e outras cantadas. Pena que só de homem comprometido.

Eu tava apresentável. Com um salto médio pra não cansar muito e num look bem natural (eu não faço o tipo que se liga em tendência de moda. Visto o que acho que fica bom em mim e sempre acerto, ainda bem!). Quando encontrei com meus amigos, uma amiga disse:”Hoje promete. Vou te arrumar um namorado! Missão da noite”. Ela e outra amiga saíram decididas a fazer isso, depois da fossa que eu passei quando terminei com o meu ex, em meio a muitas decepções, brigas e discussões que me fizeram declarar pros meus amigos: Não quero mais vê-lo nem pintado de ouro. Odeio ele. Quero que ele se exploda!

Era um dia chuvoso. Um típico dia cinza. Eu tava com raiva e disse isso pela milésima vez. E foi então que o meu melhor amigo me deu o veredicto dele: “Não vou mais permitir isso. Tu não vais voltar com ele”.

Fomos para um lugar legal, eu tava morrendo de frio, mas a comida tava ótima. Não bebi nada além de coca zero. Minha amiga tava revoltada. Sempre saímos e enchemos a cara pra afogar as mágoas ou simplesmente pra ficar falando merda e rindo. E eu lá com hipotermia e tomando coca-cola. Eu não tava afim de beber. Não era um dia pra beber. Embora eu tivesse muitas mágoas pra afogar, a minha cabeça não tava aqui. Tava lá, tava lá do lado dele, com ele, nele. Sei lá. Mas depois de ler um “Sinto muitas saudades também”, eu queria ficar em casa, me agarrando ao fio de lembrança que restava dos melhores momentos com ele. Minha família descobriu nosso relacionamento, de algum modo descobriu. Então isso me rendeu certas represálias. Eu disse que já tinha acabado, e eu achei que já tinha mesmo. Mas um dia eu acordei com aquela mesma sensação de 6 meses atrás. Que é ele que eu quero. Que é ele que eu amo. E que vale à pena viver essa história porque ele me completa.

E me certifiquei disso ontem. O lugar era legal, tinha caras bonitos. Conversei com uns tantos. Conheci um amigo de uma das meninas. Estávamos todos juntos olhando o show, a banda tocava “Último Romance”. Ele me disse que também adorava Los Hermanos e lamentava o fim da banda. Não gostei do sorriso dele, era forçado e dava na cara que a qualquer momento ele ia me roubar um beijo. Mas gostei do perfume dele, era marcante, diria quase envolvente. Notas amadeiradas. Definitivamente, adoro perfume masculino. Mas aquele em especial me trazia à memória, só o meu amor. Seria um complô do universo? Conheço um cara numa noite que saí confusa entre partir pra outra ou voltar pra mesma e quando conheço alguém que parecia interessante, ele usa o mesmo perfume. Maldito cheiro. Por várias vezes, ele ficou impregnado na minha pele depois de um abraço. Quando de repente, o cara entre uma cerveja e outra, falou no meu ouvido: Você tem um bumbum lindo, desculpa mas não deu pra não reparar.

Eu já ouvi isso um monte de vezes e a minha resposta pra isso é só uma: Ignoro. Simplesmente ignoro. Posso conversar com uma planta até, mas a pessoa eu deixo de lado.

Eu sempre fui isso pra todos os homens que eu conheci na minha vida. Só uma bunda bonitinha. Tô de saco cheio disso! Tenho muita cultura, entendo de vários assuntos. Li um monte de livros, vi um monte de filmes, sou uma companhia agradável na maior parte do tempo.

E aí eu posso dizer que nisso, ele é diferente. Lógico que ele deve ter achado a minha bunda excitante, mas ele não ficava falando isso. Quando eu perguntei pra ele uma vez, o que mais tinha chamado atenção dele em mim, ele respondeu que era o jeito despreocupado que eu vivia os meus dias. Ele disse que adora o brilho do meu olhar quando eu falo empolgada sobre girafas, ou sobre alguma coisa da faculdade. E ele disse que eu sou muito engraçada. Mas nunca, nos primeiros 3 meses, sequer mencionou palavras baixas que se referiam a imensa massa adiposa que localiza-se na minha parte glútea.

Pronto! Custava os homens serem assim? Não, ele não é perfeito, caro leitor. Mas ele foi o que mais se afastou do meu conceito de “Imperfeição”. Ele também não é o meu príncipe encantado, mas ele me acordava com um beijo e sempre que eu corria algum “perigo”, se ele não pudesse me salvar pelo menos ele me abraçava pra eu não me sentir tão sozinha. E mesmo que ele não fosse o homem dos meus sonhos, eu sonhei com ele por muitas noites quando me descobri apaixonada.

Tudo o que queria era um cara que me respeitasse como mulher. Que entendesse minha TPM, mesmo que nem aturasse, mas que pelo menos entendesse. Que me enxergasse como uma mulher inteligente, culta, simpática, autêntica e interessável. Tudo, menos só mais uma bunda bonita.

E o cara de ontem, me deu uma certeza de uma vez por todas. Que não devo sair por aí à procura de outras pessoas. Meu coração já pertence a alguém. Um alguém que eu tô contando os dias, os 11 exatamente, a contar de hoje, pra reencontrar e voltar a ser feliz.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Eu senti medo.

O amor definitivamente não é o tipo de sentimento que covardes possam sentir. O amor exige coragem. Muita coragem.
Coragem de enfrentar preconceitos, de acreditar que vai dar certo, de não se importar com opiniões pessimistas. Coragem pra viver a vida a dois. Pra saber a hora certa de dizer sim e não. Pra saber se vale à pena insistir quando tudo se desgastou ou se é melhor sacrificar sua felicidade em nome da felicidade do outro.
Eu fui corajosa, todos os dias. Sentir o frio na barriga me dava essa certeza. Porque só podia saber que estava sendo corajosa quando sentia medo. O medo de parecer vulgar ao tomar a iniciativa. O medo de ouvir um não quando pedia um beijo. O medo de ver que estava sendo usada. Senti medo, e não me envergonho por isso. Acho que até me sinto orgulhosa.
Sim! Palmas pra mim que senti medo de amar e superei esse medo!
A vida toda eu procurei um bom motivo pra não me envolver, pra não pensar sequer em depender de alguém pra tornar meus dias mais interessantes. Gastei muito tempo me tornando interessante que esqueci de me tornar interessável.
Mas aí um belo dia eu olhei por lado e vi que ele sempre esteve lá. Que era quem me conhecia e me aturava até na TPM. Que era quem nem ligava se a minha bolsa não combinava com o meu sapato, ou se eu não tinha feito chapinha. Era pra quem eu chorava todas as minhas dores e dividia todas as minhas alegrias. Com quem eu sonhei ir ao altar com um vestido cor de pérola bordado de cristal, o buquê de rosas vermelhas e a minha sobrinha de dama de honra.
Não vou dizer que a gente não deu certo. A gente deu certo pelo tempo que tinha de dar. Eu fiz muitas loucuras, me desfiz de pessoas, de coisas, de sentimentos que não me eram mais úteis. Escondi ele da minha família e de quem mais não enxergasse que o nosso relacionamento era algo bonito e verdadeiro. Cometi um grande erro para nos privar preocupações posteriores. Ele me deu um novo ponto de vista pra olhar a vida. Ele me fez melhor. Se a gente errou se envolvendo, não foi culpa de ninguém. Ele me amou no tempo dele e eu descobri isso muito tardiamente. Tão tarde que ele mal aproveitou.
Claro que eu deveria dar uma chance pra nossa amizade. Mas eu não consigo, eu simplesmente não consigo. É um defeito, eu sei. Mas espero que ele acredite que “Pra sempre” não dura só até amanhã de manhã. E enquanto essa pontinha de frustração de ter ficado no “quase” insistir em ficar alojada no meu coração, eu simplesmente não poderei olhá-lo com outros olhos.
Também não vou me culpar se eu não sou bonita o suficiente, se não sou gostosa, se não curto os mesmos programas. Um amigo em comum disse que não conseguia entender porque eu e ele nos dávamos tão bem, sendo tão diferentes. Uma pessoa emendou: Os opostos se atraem.
A verdade é que nada disso se explica. Que o amor não se explica. Só se sente. Unicamente isso.
Ele vai viver a vida dele e eu vou viver a minha. Vai levar muito tempo pro nosso tempo passar pra mim e eu fico feliz que já tenha passado pra ele que pelo menos não é mais tão doloroso. Vou tentar ao extremo, voltar a ser sua amiga. Ainda tem litros de lágrimas pra chorar, cada vez que eu ver que ele já me superou, mas também haverá mil sorrisos cada vez que eu notar que ele está feliz. Porque eu tentei fazê-lo feliz, mas sendo a felicidade algo tão subjetivo, jamais saberia os seus parâmetros para julgar isto.
E eu fico em paz, porque afinal... Ninguém é culpado por não termos ficado juntos pro resto das nossas vidas.

domingo, 26 de outubro de 2008

Salve-se quem puder!

Ainda agora eu falava pra minha mãe e uma vizinha que anulei meu voto para prefeito no segundo turno, sem dó nem piedade. Por simples falta de opção. Um só promete e com certeza não iria cumprir e o que se reelegeu só promete o que não pode cumprir e quando cumpre, melhor se nem tivesse prometido. No primeiro turno confiei meu voto a um cara que eu sabia que era muito preparado. Ele não foi pro segundo turno e acabou apoiando o candidato que eu jamais daria o meu precioso voto. Não vendo, não troco, não dou meu voto pra mais ninguém. Sabe por quê? Porque simplesmente há tempos atrás (e eu faço aqui um farofão pra esse episódio, o dos caras-pintadas e tantos outros de revolução e luta contra opressão), mulheres assim como eu, foram às ruas pra garantir que seriam muito mais do que receptoras de esperma, genitoras e serviçais... Provaram que tinham vez e voz perante a sociedade e conquistaram um direito, o de escolher o futuro político da nação onde vivem. Que me taxem de feminista, pouco me importo! Mas besta, eu não sou. O meu voto não vai pro espertalhão que aparece aqui de 4 em 4 anos distribuindo comida, roupas, calçados, asfalto vagabundo, dinheiro, empregos temporários e principalmente papeizinhos com uma seqüência de números que pra mim mais parecem um código que acionam uma bomba-relógio. E ela explode aos pouquinhos, dia após dia nos 4 anos subseqüentes!!
Policiais matam pessoas inocentes por pura confusão. Eu sei o que é que tá confundindo. O cara vai pras ruas, sem nenhum preparo psicológico, com um arma de fogo na mão enquanto fica pensando na família que na maioria das vezes, é ele que sustenta sozinho. Tem também o verme asqueroso que ganha R$ 14 mil por mês e podendo ter quem ele quiser nesse mundo capitalista e materialista, o cara resolve manter relações sexuais com uma criança. Uma coisa no mínimo repugnante! Mas como reza a sabedoria popular, “nada está tão ruim que não possa piorar”. Então descobre-se que no meio dessa história, existe uma mãe que leva sua própria filha e a amiguinha pro desgraçado do procurador aliciar. Pô, eu tô doida ou de repente o sentimento maternal tá cagado? Tenha a santa paciência! (diria divina?).
Depois, vem um monte de gente me dizer que o político beltrano é melhor do que o ciclano porque ele aparenta ser mais confiável. Mermão, eu que não confio mais nem no meu próprio organismo por ter sido traída pelo meu pâncreas, vou confiar num desgramado com cara de santo? Todo ser humano tem um potencial homicida ou suicida dentro de si. E com isso não se brinca.
Vou continuar anulando meus votos. Porque acho que o Código Penal brasileiro deveria ser reformulado. Porque acho que políticos têm muitas regalias. Porque acho que a política brasileira é uma grande piada de humor negro. Porque eu não sou só mais um número. Porque acho que vergonha é sustentar 10 pessoas com R$ 415 por mês. Porque repudio a política de pão e circo. Porque não posso sequer sair na rua em segurança. Porque tenho meus direitos esmagados pela pseudo-ditadura que Belém vive. Porque estou cansada de sair de casa e deixar minha mãe rezando para eu voltar sã e salva. Porque o verde da bandeira predomina mostrando a imaturidade da nossa nação ante os ideais de justiça, e principalmente ordem e progresso. Porque quero mais investimento em educação e emprego. Porque tenho vergonha de viver numa cidade de caos que tá morena de tão queimada.

sábado, 25 de outubro de 2008

Volta TV Colosso!

Minha mãe embrulhava presentes pra festa do colégio dela. Meu pai lia as últimas notícias na internet.
Eu, tentava enrolar na cama. Geralmente é assim, eu acordo e posso passar horas tentando lutar contra a força que me prende ao colchão.
Gosto de ficar pensando, pensando, pensando.. Pensando naquilo que deu certo, no que não deu, numa frustração que me arrebatou no dia anterior, no que eu vou fazer mais tarde, se enrolo as pontas do cabelo pra fora ou pra dentro na hora da chapinha, como eu vou estar daqui a 15 anos.
Essas coisas, banais, importantes, indispensáveis.
De repente, ouço do quarto, minha mãe comentar com meu pai sobre o caso da menina que foi assassinada pelo ex namorado que a sequestrou e matou. Sim, caros amigos, ela mesmo. A Eloá.
Eu simplesmente, acho incrível - só pra eufemizar, porque eu iria dizer mesmo era, que é inaceitável e inacreditável - que de repente essa menina tava mais dentro das nossas casas do que nós mesmos.
Aqui então, a cada flash da globo e da record, mamãe soltava o suspiro de "Ai meu Deus. Eles apareceram na janela. Ele tá atirando. Cuidado!". Um dia, durante as 100 horas de sequestro, olhei até pra janela pra ver quem era que tava lá. Ninguém.
Aliás, janela por janela, pobre Isabela que também não teve uma relação muito saudável com uma janela. Nem com a Globo. Ainda bem que minha casa só tem um pavimento, se eu cair da janela, só ralo o joelho! Mas eu tava falando da Eloá, a filha mais velha dos brasileiros, a Isabela era a caçula. Depois falo dela que também sofreu a mesma coisa.
Enfim, a Eloá de repente conquistou o que toda menina na idade dela, sonhou um dia. Popularidade. Duvido se não tem um monte de crianças batizadas com o mesmo nome em homenagem a ela. Só é uma grande lástima que essa popularidade tenha vindo sob um enfoque tão triste e trágico.
Mas tristezas à parte, vou falar sobre algo que definitivamente me incomoda muito.
Eu nunca vi essa menina pessoalmente, nunca fomos apresentadas, não sabia nem quem era Nayara, Lindemberg, os outros reféns, os pais deles, o capitão da polícia e nem os vizinhos que dão entrevistas e depoimentos. Mas aí, foi só a Globo jogar no Jornal Nacional que a vida Eloá cruzou com a minha.
Não, eu não tava lá, eu não fui lá, eu só fui saber do sequestro, na verdade, no último dia ouvindo uma brincadeira do meu melhor amigo que disse "Te cuida com o teu ex, de repente ele tenta te sequestrar!" e por uma mulher que fez o meu pão com queijo na padaria.
Foi aí que na hora do jantar, eu me dei conta que meus pais se rendiam a uma espécie de reality show dos horrores. Eles e o resto do Brasil.
As pessoas acompanharam cada minuto do sequestro. Minha tia podia escrever o inquérito todo, contando cada detalhe. Se quiser, ela dá até a opinião!
Minha prima vai pro msn e coloca na mensagem de exibição, "Luto! Eloá Cristina Pimentel. Nós sempre te amaremos. Saudades eternas". Cheguei a perguntar quantas vezes ela foi a Santo André nos 11 anos de vida dela.
O meu pai acredita que o cara é um inescrupuloso e que deve responder de acordo com os crimes que cometeu, sem ter direito a atenuante algum. Papai não é advogado, ainda bem.
Mamãe também não é advogada, ainda bem. Aliás, é a única pedagoga que eu conheço que não acredita em reabilitação social. "Nada de reinserção na sociedade. Pena de morte pra ele" brandava ela enquanto eu tranquilamente passava requeijão no meu pãozinho, no dia subsqüente ao fim do sequestro, em que todos se acham psiquiatras, advogados, juízes, peritos, sociólogos, filósofos...
A titia perguntou o que eu acho. Fui categórica, "Acho que esse caso já encheu o saco! A menina já morreu, deixa ela descansar em paz. Prende o cara, faz ele pagar pelo crime dele e volta Os Normais, Tv Colosso, Tv Pirata e Sai de baixo."
Acho que a Globo perde muito tempo fazendo todo mundo de fantoche. E deveriam respeitar os sentimentos e os pesares das famílias que eles colocam na berlinda cada vez que um crime acontece. Eu que já quase nem assistia tv, nas últimas 2 semanas aumentei minha coleção de filmes baixados na internet. Lendo dois livros simultaneamente. Os vizinhos me acham estranha, porque eu sento no jardim pra ler e porque não assisto novela. Quando me perguntam algo sobre novela, eu fico voando.
Acho que a essa hora tá passando pela sua cabeça "Nossa, que menina insensível." Acredite, eu imagino a dor da família de todos os envolvidos, lamento a perda de mais uma vida inocente e peço a Deus a iluminação devida as vítimas e seus familiares.
Mas esse fato de que de repente todo mundo se sente parente da Eloá, enche o saco. Eu não sei as proporções da dor que a mãe dela tá sentindo, como os pais do Lindemberg estão ao saber que o filho é um assassino, como tá se recuperando os ferimentos da Nayara. Nada disso.
Eu só sei o que a tv mostra, o que as pessoas comentam no ônibus, o que a mulher da padaria do supermercado falou de manhã cedo enquanto eu tomava meu café, e foi aí que fui saber o que tava acontecendo, que se tratava de um ex namorado desesperado com fim de um namoro.
Um especialista disse que ele tinha dificuldades em lidar com frustrações. Ora, eu não sou formada em PN e sei disso, ok? Por isso que sempre digo: Acreditem no poder do Carbolitium e da fluoxetina!

Agora é esperar pelo próximo acontecimento trágico que a Globo vai ficar bombando.
Se tiver outro sequestro nessas proporções, não deixe de aproveitar. Compre o pay-per-view pra acompanhar minuto a minuto.

É, isso é Brasil.
Eu odeio a Globo!